20/05/2018

Poema em vermelho




Ah! Sonho quando as horas jazem mortas...
E por todo o jardim as flores ledas
Sonham, numa mudez como a das portas
E às vezes dançam como as labaredas...

Cada rosa flamífera  que vejo
Carrega em si o brilho da luxúria;
Flamas do Vício, bocas do Desejo,
Clamando sempre: Fúria! Fúria! Fúria!

Sangue dos oprimidos no rebate;
Truculências, revides e pedradas;
O mundo é um grande campo de combate
Ardendo à luz dos gumes das espadas!

Há sangue nas bromélias, nas distâncias...
Soa em urgências lúgubres gritando,
As gargantas febris das ambulâncias
Que pelas minhas veias vão passando...

Ah! Dolências dos cravos e das rosas!
Graves, fragrantes, agressivos, bravos,
Que desfilais ante meus olhos; glosas
De sangue e dor nas costas dos escravos...

Réquiens do Amor, delíquios do perfume, 
Ressurgidos nas vozes das violetas.
Tudo a fulgir na cor que em si resume
A morte de duzentas Julietas!

E a flor da passiflora dorme à luz
Roxa das santas que dormitam sós;
Sonha diante do sangue de Jesus
Que Ele verteu no mundo - em vão - por nós!

08/02/2018

Rosa-Sorá





I

Um vínculo entre as clavículas e suas curvaturas em vírgula ou quase raiz quadrada rosa-sorá ave guaneira a mulher-lhama muco-lúpulo e fibra de cotidiano do bulbo capilar às luas minúsculas das lúnulas (corpo de estanho, mas a pele negra haverbera em megafones de sombra, embelezando a viscose amarela), violeta que se cultiva em barrancos de terra vermelha seus olores fortes são como holofotes deâmbar deambulando evadindo-se em uva-verde um vagaroso sopor dos poros ela she il was no contraponto do dia estendida na relva-ruiva diagramada na grama numa terça-feira quente de 40 graus o soro do suor a sola do sol pregada na cabeça cozinhando os miolos dissolvendo o pink do esmalte agora ex(malte) melhor uma pausa ao menos pausa rosa-sorá sóror-rocos esta és la isla de las luces fuertes sobre os olhos pretos-condores presos em quebra-céus oblongando em ranhuras ciliadas essa terça-terçã de 40 graus vai durar muito ainda, ainda restará o  outro lado da réstia do gume-machine a vulva em pelo em cio de cadela quente noiteadentro.


            II
Há um apelo de clave no estreito fôlego de rosa-sorá. Desde os tornozelos até mais ou menos Angra dos Reis, sibilar por entre as partes incomunicáveis de um dia os cantos nas sombras tornar a vê-los depois como bólidos rodopiando-azuis roda de sarás entoando cânticos festivos e de repente tudo em torno: sutilezas em pétalas de esfinge, colorformas jocosas e aparatos quotidianos ela she il is agora em talágaxa e escarpins vermelhos algumas doses de Martini cigarros e soul music para essa mãedrugada que embala todas as suas frustrações ei, cabocla! Ei, mulata! Hé, petit panther! De todos os nomes os que desconheces não lhe são ditos mas engendrados nas parábolas dos gestos involuntários, nos invólucros que encerram as suas próprias cismas os seus próprios sismos , aí você anda deum lado proutro e reanda e desanda porque a hora se aproxima a hora pacman de boca aberta dodecafônica no tilintar das pulseiras os colares os calores okhlan  luidá rosa-sorá não diz nada e é junho. Há círculos polares em torno de si, mas os corações precisam falar.

24/01/2018

Gustavo Caso Rosendi


Gustavo Caso Rosendi, (Argentina, 1962) . Nascido em Esquel, província de Chubut, nos traz em poemas de " Soldado" , livro de 2009, seu testemunho de combatente na guerra das malvinas, em 1982.  Interessante mencionar que Rosendi só escreverá sobre esse tema mais tarde, depois de já ter publicado seus outros dois livros de poemas: elegía común (1987) e bufón fúnebre (1995) . Participou ainda de uma  antologia com obras de ex-combatentes el viento tambíen recuerda
, e poesía 36 autores. Atualmente o poeta reside em La Plata, onde é considerado um cidadão ilustre.


A seguir, apresento 5 poemas traduzidos por mim:


Maol-Mhin

Era terriblemente bello
Mirar em pelno bombardeo
La suavidad com que caiam
Los copos de La nieve.



Maol-Mhin

Foi terrivelmente belo
Olhar – em pleno bombardeio-,
A maciez com que caiam
Os flocos de neve


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Cementerio Darwin

Espectrales mohaíes que aguardan
No sé qué del horizonte
Pajaritos muertos volando todavia
Em el silencio que escarbo
Com desesperación de perro
Compañeros que vienen a posarse
Em los omóplatos de mi sombra.
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Cemitério Darwin

Mohaíes espectrais esperando
Não sei o quê no horizonte
Pássaros mortos voando ainda
No silêncio que escavo
Com o desespero de um cão
Amigos que vêm vindo sentar
Nos ombros de minha sombra.


Pase inglês

Dados tirados ao sol
Luego de una noche
Em que la mano del destino
Nos agito por las colinas de Wireless Ridge
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Passe inglês

Dados lançados ao sol
Depois de uma noite
Em que a mão do destino
Nos sacudiu pelas colinas de Wireless Ridge

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Gurkas

Mercenarios de perfil bajo
(los únicos que lon vieron
Ya no están)
Cuchillos fantasmales
Cortando los sueños
¿pero acaso nosotros
No veníamos del país de
Las picanas sobre panzas
Embarazadas?
¿Quién le tenía que tener
miedo a quén?


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Gurkas
Mercenários de baixo perfil
( os únicos que os viram
Já estão mortos)
Facas fantasmagóricas
Interrompendo sonhos
Por acaso nós
Não viemos do país
Das picanas sobre barrigas
Grávidas?
Quem teria que ter
Medo de quem?
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Monte Longdon

Es como um corso es como si fuera el último febrero desde uma vitrola oxidada canta castillo siga el baile una mujer con rostro de ibis pasea en el chuingui-chingui llueven serpientes de papel la avenida con lamparitas de colores gualeguaychú todo nevado pero no le parece raro porque sabe que le tocaba mirar hacia el frente y ganas de tomarse uma cerveza y un cabeceo y otro y otro más y ahí está buscando a la marcela entre la gente pero una estatua lo detiene le besa la frente la bufanda se le escapa como um pájaro ciego se va enganchando entre las ramas se deshilacha escocesa en el cielo y llega um frio oscuro oscuro oscuro y ya no puede enterarse de aquel filo que se le apoya en la garganta justo cuando se encienden los primeros alaridos de la noche.




Monte Longdon

É como um desfile é como se fosse o último fevereiro a começar por uma vitrola enferrujada canta castillo segue o baile uma mulher com rosto de íbis passeia em chingui-chingui chovem serpentinas a avenida com pequenas lâmpadas de cores carnavalescas tudo coberto de neve, mas não lhe parece estranho porque sabe que lhe cabia olhar para frente e vontade de tomar uma cerveja e um cumprimento e outro e mais outro e de repente está à procura de marcela entre as pessoas mas uma estátua o detém lhe beija a testa o cachecol lhe escapa como um pássaro cego vai se enganchando entre os galhos se desfia o tecido escocês no céu e chega um frio escuro escuro escuro e já não pode se dar conta daquele fio que lhe enrosca na garganta exatamente quando se incendeiam os primeiros alaridos da noite.